Quando iniciei como Agile Coach em janeiro de 2018, promovido após alguns meses com Scrum Master no Agibank, eu logo fiz uma lista de leituras para me tornar um bom profissional nessa função. Dentre esses leituras estava o livro Toyota Kata, de Mike Rother, que é o motivo da minha resenha de hoje.
Toyota Kata é um livro sobre “gerenciar pessoas para melhoria, adaptabilidade e resultados excepcionais”, segundo o próprio autor. Se esses assuntos lhe interessam, continue lendo o post.
Clique na capa do livro para ver na Amazon.
Quem é Mike Rother?
Mike é um pesquisador americano enormemente conhecido por ter difundido no ocidente através de suas publicações os conceitos japoneses de Value Stream Mapping (Mapeamento de Fluxo de Valor, essencial para o Kanban), Fluxo Contínuo e, neste caso, o Toyota Kata também. Ele inclusive recebeu diversos prêmios devido à inovação e contribuição práticas das suas pesquisas na área e manufatura.
Sim, estou em um blog de tecnologia falando de um autor da indústria, ou você esqueceu que as bases dos métodos ágeis vieram do Sistema Toyota de Produção?
Toyota ok, mas o quê é um Kata?
Primeiro você precisa entender o que é um kata na cultura japonesa.
Um kata (forma em japonês), nas artes marciais, é uma sequência de movimentos coordenados cujo objetivo é proporcionar ao praticante da arte e, simultaneamente, experiência de luta. A ideia é que, conforme o estudante dominar os katas, eles se tornarão parte dele e, em caso de necessidade, ele os usará de maneira instintiva ou até mesmo criará novos.
Esse conceito de assimilação de conhecimento das artes marciais é citado por Jeff Sutherland no best-seller Scrum: A Arte de Fazer o Dobro do Trabalho na Metade do Tempo como sendo o famoso modelo Shu-Ha-Ri (também citado por Martin Fowler): na fase do Shu o estudante apenas repete os movimentos, sem entender muito bem o que está fazendo, mas ganhando prática; na fase Ha ele passa a entender os princípios e conceitos e a incorporar outras práticas de outros mestres; e na Ri ele transcende os ensinamentos e cria suas próprias práticas.
No contexto do livro, a referência aos katas se dá pelo fato da Toyota possuir “sequências de movimentos” ou de práticas que eles já incorporaram no seu dia a dia de maneira transparente e natural. Eles estariam no estado Ri de algumas competências gerenciais.
Inclusive Rother cita que, por ser algo tão natural no chão de fábrica japonês que ele teve de fazer intensas observações no dia a dia do trabalho nas gembas. Esse nome, Toyota Kata, ele mesmo quem cunhou.
O que é Toyota Kata?
Na verdade não é apenas um kata, mas dois: o Improvement Kata (Kata de Melhoria) e o Coaching Kata (Kata de Treinamento) e o livro gira em torno de lhe explicar estes dois katas, com muito embasamento de outros cases.
Basicamente, o Kata de Melhoria pode ser explicado a partir da imagem abaixo.
Nela, partimos do futuro (1), da visão de onde queremos que nosso processo ou produto esteja.Por exemplo, que seja possível atender a um cliente em menos de 10 minutos em uma financeira.
Depois, tiramos uma fotografia da nossa situação atual (2), onde estamos hoje frente ao desafio futuro. Por exemplo, demoramos 1h30 para atender a um cliente.
A seguir, definimos o próximo passo, a Próxima Condição-Alvo (3, Next Target Condition ou NTC), rumo à visão. Por exemplo, reduzir o tempo de análise de novo cliente de 30 minutos para 5 minutos.
Com a Próxima Condição Alvo em mente, conduzimos experimentos (4) para se chegar lá, usando o método PDCA para isso. É importante salientar que serão necessárias várias iterações ou NTCs para se chegar na visão. Ou seja, os passos 2, 3 e 4 se repetem.
Claro que o livro vai a fundo nestes tópicos que eu apenas citei, ensinando a definir estas etapas, a conduzi-las e apresenta cases da manufatura japonesa.
O outro kata, de Coaching, é sobre como na Toyota os líderes ensinam o Kata de Melhoria aos novatos. Como eles fazem gestão de pessoas para melhoria, adaptabilidade e resultados excepcionais.
Aqui vale uma menção aos exercícios que existem no livro, com situacionais em que você deve tomar decisões e depois vê a resposta correta segundo o autor.
E em software?
Claro que alguém já adaptou isso para o mundo do software, não é mesmo?
No livro Lean Enterprise o Toyota Kata é citado em uma versão modificada, voltado ao desenvolvimento de software. Enquanto que no original o foco era melhoria de processo, aqui o racional é quebrar uma visão de produto em pequenos passos iterativo-incrementais.
No entanto, caso queira realmente entender como funciona essa adaptação, o trabalho original veio deste livro aqui, de funcionários da HP, A Practical Approach to Large Scale Agile Development.
A essência ainda é a mesma, o mais bacana dessas leituras são os cases de aplicação mesmo.
Um abraço e até a próxima!
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* OBS: curtiu o post? Então dá uma olhada no meu livro de Scrum e Métodos Ágeis e/ou no meu curso (abaixo) sobre o mesmo assunto!
Olá, tudo bem?
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[…] Claro, Evolutionary Architecture não é sobre ser displicente com arquitetura. É sobre ter em mente uma visão de longo prazo (que deve sofrer alterações com o passar do tempo), mas planejar em detalhes e executar um passo de cada vez ao invés de voltarmos ao waterfall. Uma abordagem para esse raciocínio pode ser o Toyota Kata. […]
[…] Claro, Evolutionary Architecture não é sobre ser displicente com arquitetura. É sobre ter em mente uma visão de longo prazo (que deve sofrer alterações com o passar do tempo), mas planejar em detalhes e executar um passo de cada vez ao invés de voltarmos ao waterfall. Uma abordagem para esse raciocínio pode ser o Toyota Kata. […]