Introdução técnica à StableCoins

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Introdução técnica à StableCoins

Luiz Duarte
Escrito por Luiz Duarte em 03/08/2023
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Neste tutorial você vai aprender o que é e para que servem as stablecoins, os tipos existentes e modelos de negócio deste mercado. Não há necessidade de conhecimento prévio para entender esse artigo, além do básico de criptomoedas em si e, idealmente, do básico de programação de smart contracts em Solidity, o que você pode aprender neste outro tutorial.

Vamos lá!

O que é uma stablecoin?

Uma stablecoin é uma forma de criptomoeda projetada para manter um valor estável em relação a um ativo subjacente, como uma moeda fiduciária (por exemplo, dólar americano, euro) ou commodities (por exemplo o ouro). Ao contrário de outras criptomoedas voláteis, como o Bitcoin, cujos preços podem flutuar significativamente, as stablecoins são projetadas para fornecer estabilidade de valor.

Do ponto de vista técnico, stablecoins não são nada mais do que Wrapped Tokens com ou sem lastro, a depender do seu tipo (veja mais adiante), buscando sempre uma paridade com um elemento externo à moeda e às vezes, até mesmo externo à blockchain. Como exemplo podemos citar a Tether (USDT), a USDC, a TUSD, a DAI e a BUSD, todas pareadas com o dólar americano, e a PAX Gold (PAXG), pareada com o ouro.

Se a stablecoin optar por ter lastro, ela deverá apresentar relatórios periódicos emitidos por alguma firma de auditoria contábil que possua relevância e profissionalismo para tanto, comprovando a existência do lastro em quantidade igual ou superior ao número de tokens emitidos. Já se a stablecoin optar por não ter lastro (sim, isso é possível), ela deverá apresentar de forma transparente detalhes técnicos e até mesmo os fontes do projeto, de preferência auditado por consultorias de segurança em blockchain.

Falo mais sobre paridade em stablecoins no vídeo abaixo.

Para quê serve uma stablecoin?

As stablecoins têm ganhado popularidade porque combinam as vantagens das criptomoedas, como a facilidade de transferência e a capacidade de transações globais rápidas, com a estabilidade de valor das moedas fiduciárias. Elas podem ser usadas para fins de pagamento, remessas internacionais, negociação em exchanges de criptomoedas e até mesmo como uma reserva de valor estável em momentos de alta volatilidade no mercado de criptomoedas.

O que antes exigiria que você fizesse uma remessa usando SWIFT ou outro modelo bancário internacional que poderia levar dias e custar vários dólares, hoje você pode fazer comprando stablecoins em uma corretora, transferindo para a carteira do destinatário ao custo de centavos e em minutos ele poderá trocar de volta para moeda fiduciária do outro lado, gastando mais alguns centavos e sem perder nada de valorização.

Devido a essas enormes vantagens o uso de stablecoins se tornou praticamente a norma entre os traders e investidores que as usam inclusive, muitas vezes, para dolarizar suas reservas o que, claro, pode se tornar um risco também (veja mais adiante).

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Quais tipos de stablecoins existem?

Existem diferentes tipos de stablecoins. Alguns são emitidos por instituições financeiras ou empresas e são lastreados em reservas do ativo subjacente. Por exemplo, uma stablecoin lastreada em dólar pode ter um dólar em reserva para cada unidade de stablecoin em circulação. Essas stablecoins são chamadas de “lastreadas” ou “garantidas” porque são apoiadas por um ativo subjacente. Outro nome comum para esse tipo de stablecoin é collaterized ou fiat/commodity backed, onde colateral é um termo frequentemente usado no sentido de “garantia”.

Como exemplo de stablecoins colaterizadas temos a Tether (USDT), mantida pela empresa BitFinex e com paridade de 1:1 com o dólar americano. Ou seja, para cada 1 USDT emitido a empresa deve ter reservas equivalentes a 1 USD. Essa reserva atualmente é composta de títulos americanos (bonds), investimentos diversos e uma pequena fração em cash (em espécie, dólares), o que a torna alvo de muitas críticas dada a proporção apresentada que sinaliza um risco de insolvência em caso de uma corrida de saques. O objetivo aqui não é tocar o terror sobre a USDT, mas tire suas próprias conclusões analisando o relatório de auditoria fornecido por eles próprios.

As stablecoins colaterizadas são as mais comuns de todas e também as mais confiáveis por causa desse lastro. Ou melhor, são tão confiáveis quanto seu emissor. Pensando nisso, a Binance, quando decidiu lançar uma stablecoin lastreada em dólar (BUSD), optou por fazê-lo em contas americanas em NY, garantidas pelo FDIC (o FGC americano), o que garante a solvência por parte do governo americano até um valor x por correntista (acho que era U$250 mil, mas sempre é bom fazer sua própria pesquisa). Você também pode acompanhar a auditoria das reservas do BUSD no site oficial.

O BUSD foi feito pela empresa Paxos em parceria com a Binance, por isso que o link anterior vai te mandar para lá. Além do BUSD, a Paxos é famosa pela stablecoin Paxos Gold, que é pareada ao ouro. Ou seja, para cada 1 token PAXG emitido, a Paxos deve guardar em um cofre 1 onça de ouro, o que equivale a aproximadamente 28g. Essa facilidade em investir em ouro trazida pelo token é incrível dado a quantidade de taxas e/ou riscos de segurança que o investimento tradicional em ouro geralmente está associado. Da mesma forma que acontece com as stablecoins colaterizadas, reportes mensais são exigidos para que se tenha a confiança da existência das reservas de commodities como o ouro, que você confere neste link.

Outro tipo de stablecoin é chamado de “algorítmica” ou “não lastreada”. Essas stablecoins usam algoritmos e mecanismos para manter seu valor estável. Por exemplo, eles podem ajustar automaticamente a oferta de moedas com base na demanda e no preço de mercado para manter um valor-alvo. É comum stablecoins algorítimicas que queiram se parear com moedas fiat usarem de oráculos (oracles), que são serviços que injetam na blockchain dados do mundo off-chain regularmente. Assim, consultando o preço de um ativo regularmente, uma stablecoin algorítmica pode controlar a expansão e contração monetária para se manter no preço alvo.

Stablecoins algorítmicas são uma faca de dois gumes: ao mesmo tempo que a não dependência de lastro é uma vantagem aos criadores, a dependência de inúmeros fatores técnicos para manter seu preço estável podem gerar graves desastres como o que aconteceu com a Terra Luna que inclusive acarretou na prisão de seu fundador em 2023. Talvez caminhos híbridos, como o proposto pela stablecoin DAI, que é pareada ao dólar mas lastreada em criptoativos voláteis usando muitos algoritmos, sejam o futuro para este tipo de moeda.

Por que eu iria querer criar uma stablecoin?

Você já parou para pensar porque grandes empresas como BitFinex e Binance se preocuparam em criar stablecoins? Será que foi apenas para ajudar o mercado cripto a conseguir negociar e enviar dinheiro com mais facilidade pela blockchain?

Claro que não. Um fato que poucos sabem é que stablecoins podem ser muito lucrativas!

Para entender como isso pode ser possível é interessante você entender como que os bancos tradicionais fazem dinheiro no mundo real. Uma das formas mais comuns e mais lucrativas no portfólio de negócios de um banco é captar dinheiro das pessoas, pagando um pequeno rendimento sobre ele (poupança, fundos de investimento, títulos de capitalização, etc) e usar esse dinheiro para empresas para outras pessoas, ganhando muito com os juros (financiamentos, empréstimos, consórcios, etc).

O fato é que sempre que você acumular muito capital, de qualquer forma que seja, você poderá usar desse capital para gerar mais dinheiro e a stablecoins são exatamente isso: um mecanismo de acúmulo de capital para as empresas. Imagine em um cenário hipotético que você criasse uma stablecoin lastreada em Reais Brasileiros (BRL) e que você emitisse 1 token para cada 1 Real recebido. Até aí nada demais. Mas imagine que esse 1 BRL você guardasse em uma conta remunerada, como a do Nubank (exemplo ingênuo, mas fácil de entender). Ou seja, enquanto as pessoas transacionam usando seu token, você mantém os Reais “verdadeiros” gerando lucro para você até o dia que elas decidirem sacá-los de volta.

Claro, não estou te incentivando a fazer exatamente isso, é apenas um exemplo hipotético, até porque toda instituição financeira no Brasil precisa atender legislações específicas, então não vá achando que vai criar um banco cripto do dia para a noite no seu quarto pois isso seria considerado agiotagem, ok?

Além dessa finalidade de captação de recursos, stablecoins podem ser lucrativas através das suas próprias taxas, como no caso da PAXG. Toda vez que PAXG é emitido é cobrado uma taxa de 0.2% (da última vez que vi). Ou seja, a empresa lucra toda vez que você decide adquirir novos tokens e possivelmente devem ter outras taxas em outras momentos, tornando o negócio ainda mais interessante para eles. Em um mercado como o de ouro onde as taxas para uma empresa de valores manter seu ouro em segurança é altíssima, esses 0.2% ainda são bem interessantes.

Enfim, apenas algumas ideias do que rola no mercado para você pensar a respeito.

Em um próximo tutorial, quero lhe ensinar como você pode programar a sua própria stablecoin, quer seja para estudos ou para empreender. Confira ele neste link.

Até lá!

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