Como escolher a blockchain certa para meu projeto web3?

Web3 e Blockchain

Como escolher a blockchain certa para meu projeto web3?

Luiz Duarte
Escrito por Luiz Duarte em 10/07/2025
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Uma pergunta recorrente que recebo de alunos e clientes de consultoria é sobre qual a melhor rede blockchain para fazerem deploy dos seus smart contracts. Infelizmente não existe uma resposta definitiva para esta pergunta, já que não existe uma única rede que supere todas as outras em todos os aspectos de qualquer projeto. Enquanto temos alguns projetos que são bem recorrentes, como tokens ERC20, coleções ERC721, etc, mesmo neles temos aspectos a serem considerados na hora de escolher a blockchain-alvo.

Não apenas isso, escolher a blockchain certa para um projeto Web3 é uma decisão estratégica fundamental. A escolha impacta diretamente nos custos de transação, velocidade e UX, segurança, compatibilidade com carteiras, bridges, oráculos, adoção e liquidez do ecossistema e muito mais.

Dito isso, no artigo de hoje vou explorar alguns destes aspectos, usando exemplos de redes reais para ilustrar os tópicos e te ajudar no entendimento. Mas atenção: a tendência é que você não deva usar os dados específicos que trouxe aqui, mas sim os conceitos, já que esse é um mercado que está evoluindo muito rapidamente e as características de cada rede mudam a cada nova versão.

Se preferir, você pode assistir ao vídeo abaixo ao invés de ler.

Vamos lá!

Stack de Tecnologia

A primeira coisa que costumo olhar é a stack de tecnologias do projeto. Se ele foi feito para SVM (Solana Virtual Machine), não há o que discutir, terá de usar a rede Solana para o deploy. Mas na imensa maioria dos casos, aproximadamente 80% deles segundo pesquisas (SolidityLang, Electric Capital e outras), os projetos são para redes EVM (Ethereum Virtual Machine), e portanto requerem a escolha de uma rede que suporte esta VM, que são várias: BNB Chain, Avalanche, Polygon, Arbitrum, Optimism e claro, a própria Ethereum Mainnet, só para citar alguns exemplos.

“Luiz, então se eu não quiser me estressar com a escolha da rede, é só trabalhar com Solana?”

Essa escolha, se feita de forma preguiçosa, apenas por essa razão, vai te gerar uma série de outros problemas. A rede Solana tem sim as suas qualidades, como o baixo custo de transação ($0.00025) e um tempo de bloco de 400ms (embora tenha outras redes parecidas nesse quesito), mas sofre de outros problemas como ecossistema ainda pequeno (o que afeta materiais de apoio e mão de obra especializada) , curva de aprendizado alta e um histórico de problemas que geraram até interrupção de seus serviços (aqui, aqui, aqui, aqui e aqui). Não me entenda mal, toda rede tem seus problemas, estou apenas trazendo contrapontos à euforia que alguns devs depositam em cima da rede Solana.

Dito isso, se optou pela stack SVM, não tem outra opção senão seguir com a Solana e o artigo não irá lhe ajudar em nada a partir daqui. Outras redes também “sofrem” do mesmo problema, como Sui e Near, enquanto que algumas como Polkadot apostam em tentar manter compatibilidade com a sua stack + suporte a EVM através de “parachains”. Continuando a leitura, assumirei que seu projeto é EVM ou vai optar por EVM para o desenvolvimento dele.

Nada contra as demais, mas EVM é a minha especialidade e onde posso ajudar mais com informações e exemplos para ilustrar os tópicos.

Roadmap Web3
Roadmap Web3

Segurança e Transparência

Satoshi Nakamoto e outros autores introduzem o conceito de Trilema da Blockchain: Segurança, Escala (performance) e Descentralização. Ter uma rede perfeita nstes três aspectos seria conceitualmente impossível visto que eles são antagônicos. Não quer dizer que priorizando dois deles o terceiro aspecto seria completamente ignorado, mas que o trilema era uma realidade indiscutível e que, no caso da rede do BTC, foi priorizado segurança e descentralização, o que impactou diretamente a performance da rede, mesmo apesar de melhorias feitas de lá para cá. Pra você ter uma ideia, o tempo de bloco da rede BTC é de aproximadamente 10 minutos, o que indica que ela pode levar até esse tempo para registrar sua transação. Além disso, enquanto que o custo de uma transferência simples gira em torno de $0,50 a $2,50, existem recordes registrados de até $50 de taxa em picos de congestionamento, o que mostra novamente desafios de escala.

Novamente, o objetivo aqui não é denegrir a rede do BTC, que é a maior, mais segura e mais estável dentre todas as redes em atividade, sem downtime desde seu lançamento em 2009. Mas sim, te trazer que a escolha por segurança máxima traz impactos negativos em descentralização ou escala. É por esta razão, de escala (tanto em tempo quanto em custos), que a rede do BTC, mesmo com as gambiarras que alguns devs fazem para criar tokens e coleções NFT nela, não é adequada para nenhum projeto web3, servindo única e exclusivamente para as transações da criptomoeda de mesmo nome, conforme seu objetivo original.

Analisando outras redes no quesito segurança, temos que entender a diferença fundamental entre redes Layer 1 e redes Layer 2. Redes Layer 1, como Ethereum Mainnet e BNB Chain, são redes blockchain tradicionais, que vão recebendo as transações, processando elas e registrando as alterações de estados no seu storage, replicando as alterações entre seus nós. Elas são as mais seguras e confiáveis, já que toda transação registrada nela segue as regras comuns à todas blockchains como imutabilidade, auditabilidade, etc. Se o seu projeto exige o máximo nesses dois quesitos, você provavelmente vai querer estar em uma rede L1.

Redes L2 são camadas de software blockchain adicionais a uma L1, ou seja, elas operam em cima de outra blockchain tradicional. A Polygon por exemplo, é uma L2 da Ethereum Mainnet, enquanto que a opBNB é uma L2 da BNB Chain. Redes L2 são muito mais rápidas e baratas que L1 e isso não é por acaso, já que redes L2, no geral, fazem duas coisas bem diferentes das blockchains tradicionais: elas processam as transações fora da blockchain L1 (offchain) e agrupam as mesmas em grandes conjuntos (rollups) para serem registradas apenas uma vez. Essas duas mudanças, em conjunto, fazem com que o ganho de velocidade e economia de taxas seja gritante, no entanto trazem um risco maior à segurança, integridade e auditabilidade das transações.

Resumidamente, as redes L2 não registram todas transações na rede L1 adjacente, mas apenas snapshots ou resumos delas, dentro de smart contracts da própria rede L2. Assim, um saldo de token que você tem na L2 não é refletido na L1 e vice-versa e sequer você verá as mesmas transações em ambas, com exceção de saques e depósitos da moeda nativa da rede. Assim, redes L2, na minha opinião, não são interessantes para protocolos onde a segurança e transparência sejam itens críticos, como grandes tesourarias e protocolos DeFi que lidam com grandes transações (em valor nominal), mas são muito interessantes para protocolos que exijam performance alta e custos baixos, como veremos a seguir. Vale ressaltar que algumas redes L2, como a Polygon, buscam evitar problemas de segurança adicionando recursos específicos para esse fim, se chamando de L2.5 (ou sidechain) por causa disso, obviamente impactando diretamente na performance como veremos a seguir.

Curso Web3 para Iniciantes
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Performance e UX

Quando analiso a performance necessária a um projeto web3, tenho em mente um fator crucial: a experiência do usuário (UX). E a experiência do usuário é impactada diretamente pelo tempo que ele tem de esperar para que algo aconteça na sua aplicação, então vamos falar um pouco de tempo agora.

O tempo pode ser expressado pelo tempo de bloco de uma rede (em segundos) e pelo seu tamanho de bloco (em gás), o que nos leva à sua vazão (em TPS ou Transações por Segundo). Por exemplo, a rede BNB Chain, desde o dia 30/06/25, possui um tempo de bloco de 0.75 segundos e um tamanho de bloco de até 140M de gás. Com cada transferência simples consumindo 21k gás, temos a possibilidade teórica de mais de 6k transações por bloco ou um TPS teórico de mais de 8k/s. Eu digo teórico porque na prática existem mais fatores (como a validação e propagação) e não é tão simples assim, o TPS real da BNB Chain é de 2k/s, com meta de chegar a 5k/s em breve. Nada mal para uma rede L1, certo?

Pegando outro exemplo, a rede Ethereum Mainnet possui tempo de bloco de 12 segundos (com propostas para chegar a 6s), tamanho de bloco de 30M de gás e vazão de 20 TPS. Sim, até 20 transações por segundo, sendo que a média é 15 TPS. Mas antes que você pense mal da Ethereum, lembre-se: ela é a segunda maior rede do mundo e isso impacta na descentralização e na segurança também. Mas é fato que se UX for algo relevante para você, como no caso de games web3, ela não será a rede mais escolhida.

E antes que você ache que basta escolher qualquer rede L2 e está tudo resolvido em termos de performance, saiba que a rede Polygon por exemplo, uma famosa L2 da Ethereum Mainnet, possui um tempo de bloco de 2 segundos, ou seja, bem mais que o dobro da BNB Chain. Mas e uma L2 da BNB Chain? Será que não performaria melhor? Neste caso sim, a opBNB possui um tempo de bloco de 500ms, bem próximo do que temos na Solana por exemplo (400ms), sem abrir mão do ecossistema EVM que é muito maior que o SVM.

Custos de Transações

Saber o custo médio de transações em uma rede é um fator crucial principalmente em protocolos que envolvam micropagamentos, redes sociais e outros. Não há toa este costuma ser o principal aspecto analisado pelos desenvolvedores quando estão decidindo a blockchain onde vão colocar seus smart contracts e ingenuamente muitas vezes é o único quesito. Digo ingenuamente pois como citei antes, existem outros fatores além deste que são tão importantes quanto, dependendo do tipo de projeto que está desenvolvendo.

O custo de transações depende de fatores como complexidade da mesma (de acordo com código no próprio smart contract), custo do gás (melhor explicado aqui), congestionamento da rede e cotação da moeda nativa da rede e portanto é o elemento que mais varia entre os projetos e também com o passar do tempo, sendo o mais difícil de dimensionar previamente. Para resumir os custos das 10 maiores redes em 2025, pedi ao ChatGPT que montasse essa tabela abaixo e embora eu não tenha revisado campo a campo com os números oficiais de cada rede, me parece estar coerente.

Vale uma menção honrosa à opBNB que não figura no top 10 redes mas que é a única L2 da BNB Chain, sendo que as demais L2 são em cima da Ethereum. Usando a mesma base da Optmism, ela consegue um tempo de bloco de 500ms, mais de 4k TPS e custo médio de $0.005 por transação.

No entanto, note que não importa o quão barata seja uma rede, se o seu código for complexo demais (em tempo e espaço), ele vai gerar transações caras, então antes de qualquer coisa, faça o seu código o mais econômico possível, conforme dicas que já passei antes.

Curso Beholder
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Ecossistema e Histórico

E por fim, dois aspectos muitas vezes negligenciados na hora de escolher a melhor blockchain para seu projeto: tamanho do ecossistema e longevidade da blockchain (histórico). Como citei antes, muitas vezes os devs e empreendedores olham unicamente para o custo e/ou para a velocidade da blockchain e acabam se esquecendo de se perguntar coisas como:

  • há quantos anos esta blockchain está no mercado?
  • qual a base de usuários ativo dela no país do meu projeto? E no mundo?
  • ela já enfrentou problemas no passado (segurança, performance, etc)? Como lidou com eles?
  • que outros projetos bem sucedidos estão deployados nesta rede? Algum parecido com o meu?
  • como funciona a governança dessa rede? E seu suporte?

Mais um fator que não coloquei aqui mas sei que devs buscam são os grants ou incentivos financeiros que algumas redes dão visando atrair novos projetos. Esses benefícios são uma faca de dois gumes: ao mesmo tempo que é ótimo levantar uma grana a fundo perdido no início do seu projeto, são somente as blockchains mais novas e com menores ecossistemas que saem dando dinheiro para qualquer projeto. Quanto maior e mais velha é a rede, menos ela vai precisar “pagar” para expandir seu portfólio. Então sempre pese isso: a grana que você vai ganhar agora dessa nova rede realmente valerá a pena no longo prazo? Se sim, inclua o quesito “grants” na sua análise, caso contrário, fuja dele.

Outro fator mais raro, mas que pode ser o caso, é se o seu projeto possui sinergia ou até dependência de outro projeto existente. Sei lá, ele vai fazer algo na Uniswap por exemplo, então precisa estar em uma das redes onde a Uniswap tem deploy. E já que falei em Uniswap, tem também os casos de projetos tão grandes que possuem deploy em mais de uma rede, o que certamente dificulta a gestão mas aumenta consideravelmente a habilidade de captar usuários.

Essa ideia que fiz no tópico passado, de montar uma tabela, é excelente para você conseguir ver mais claramente as diferenças entre as redes que você cogita utilizar e quais são os pontos fortes e fracos de cada uma considerando o peso que você dá a cada aspecto. E lembrar-se disso é muito importante: o que o projeto A precisa é diferente do projeto B, por isso que quanto mais sêniors nós somos, menos certeza nós temos e mais análises fazemos antes de tomar uma decisão.

Espero que o artigo tenha ajudado.

Vamos pra cima que esse mercado é nosso!

Curso Web23
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